terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Carpe Ελληνικά: O Latim não é para mim… e ao Grego nem lhe pego…

            Parafraseando uma professora de Latim duma Faculdade Brasileira “as línguas não morrem; o que morre são os falantes da língua.” Na verdade, embora muitos continuem a dizer, carinhosamente, que o Latim morreu, ele continua a ser língua oficial do Vaticano e a ser utilizado nos mais diversos campos; desde o supermercado ao parlamento.
           O Latim não é para mim, i.e. [id est – isto é], dá muito trabalho perceber, e.g. [exempli gratia - por exemplo], que “ignição” deriva de ignis que significa “fogo”; custa perceber que, quando ligamos a ignição da nossa viatura, estamos a dar fogo às velas do motor… E que terá a palavra equus [cavalo] a ver com “equestre” e “equitação”? Ou pauper [pobre] com “paupérrimo”? Ou satis [suficiente] com “satisfeito”? Ou digitus [dedo] com “digital”? Ou lapis [pedra] com “lápis”, “lápide” ou “delapidar”? Ou bellum [guerra] com “bélico”? Ou urbem [cidade] com “urbano”? Ou omne [tudo] com “omnisciente” ou “omnívoro”? Ou genus [origem] com “genes”, “género” ou “Génesis”? Ou ludus [jogo] com “lúdico” ou “ludoteca”? Ou castrum [castelo] com “Castro Marim” ou “albicastrense”? Ou veteres [velhos] com “veteranos”? Ou docere [ensinar] com “docente” e discere [aprender] com “discente”?
Se olharmos também para a palavra nauta, que significa “marinheiro”, percebemos melhor as palavras “astronauta” (marinheiro dos astros); “cosmonauta” (marinheiro do cosmo/Universo); ou até “internauta” (marinheiro ou navegante da Internet); poderia ainda associar nauta ao navio Nautilus da ficção de Júlio Verne…
Poderíamos também aprender com o estudo do Grego clássico, mas eu ao Grego nem lhe pego… Parece-me ainda mais cansativo olhar para a última palavra apresentada no parágrafo anterior e verificar que nauta entrou no Latim a partir do Grego ναύτας; daí os ἀργοναύτας [argonautas] serem os brilhantes marinheiros da nau άργος [argos = brilhante]. Apresentarei exemplos dessa utilidade no meu próximo texto; agora deixo apenas alguns exemplos desta última língua que enriqueceram a nossa, em particular, o meio escolar: φίλος (amigo) + σοφία (sabedoria) = [filosofia]; βίος (vida) + λόγος (estudo) = [biologia]; βιβλίον (livro) + θηκή (depósito) = [biblioteca]; γεω (terra) + γραφία (escrita) = [geografia]; φωτός (luz) + γραφία (escrita) = [fotografia]; κυμική [química]; φυσική [física]; γράμματα [gramática]; ἱστορίν [história]; γιμναστική [ginástica]; μαθηματικά [matemática]…
Como estamos em κρίσις [crise], terminarei este texto com vontade de pedir a eutanásia [εύ (bem; com bondade) + θάνατος (morte)] da política [πολιτική] atual e a pedir também a devolução da democracia [δῆμος (povo) + κράτος (poder)].

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